Jovem tem atuações em trabalhos consagrados da música clássica
Jeferson Marques – Especial para o jornal Diário de Petrópolis (publicado em 18 de janeiro de 2015)
O petropolitano Luperci de Souza, de 26 anos, figura como um dos destaques da música clássica na Europa. O tenor, atualmente, se apresenta para turistas de todo o mundo em um cruzeiro marítimo.
O petropolitano Luperci de Souza, de 26 anos, figura como um dos destaques da música clássica na Europa. O tenor, atualmente, se apresenta para turistas de todo o mundo em um cruzeiro marítimo.
Mesmo ainda jovem, Luperci acumula muita experiência com
participações em trabalhos consagrados e apresentações para grandes públicos de
todo o Brasil e vários países. O tenor tem em seu currículo participação em concertos
como a Nona Sinfonia de Beethoven, Requiem de Mozart, Vida Pura de Heitor
Villa-Lobos e em óperas como em Die Lustigen Weiber von Windsor (“O Feliz
Divórcio de Windsor”), do compositor alemão Otto Nicolai, e Turandot, do
compositor italiano Giacomo Puccini.
Canarinhos de Petrópolis é porta de entrada para Luperci
Luperci de Souza começou o seu caminho na música bem cedo,
aos seis anos, quando passou em um teste para o coro dos Canarinhos de
Petrópolis, onde cantou por quase nove anos. Neste período, o grupo era regido
pelo Frei José Luiz Prim e foi bastante requisitado para apresentações em
viagens.
- Sem sombra de dúvidas, um dos melhores aprendizados
musicais e pessoais da minha vida. Viajei por todo o Brasil e por quatro países
da Europa em nove anos de coro – disse o tenor.
Luperci foi se interessando ainda mais pela música clássica
e decidiu então buscar a graduação na Escola de Canto da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), no bairro da Lapa, na capital. A partir desta
oportunidade, o tenor viu as portas para a ópera se abrirem.
- Fiquei cada vez mais interessado pela ópera, muito também pela
proximidade com o maravilhoso Theatro Municipal do Rio de Janeiro – contou.
Um dos sonhos de Luperci foi realizado logo no terceiro ano de faculdade, quando passou nos testes do coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, casa que tanto admira.
- 90% do repertório que fazíamos era ópera e, em dois anos
cantando no coro, participei de algumas produções completas – comentou o
petropolitano.
Durante este tempo, Luperci dividiu residência com dois
amigos, entre eles o músico Igor Nicolai, que falou sobre o petropolitano.
- Minha amizade com Luperci foi sendo construída com muita
cumplicidade, porque tínhamos conceitos de vida bem próximos. Fico feliz ao ver
meu amigo voando alto e colhendo os frutos que plantou no passado, e ele sabe
que onde estiver vou estar sempre com energias positivas – comentou o músico.
Dificuldades fazem tenor pensar em desistir
Por questões políticas, integrantes do coro eram impedidos
de se apresentar em papéis solos nas óperas do teatro, o que era um obstáculo
para que pudesse dar sequência na carreira. Neste momento surgiu a oportunidade
para ele e os dois amigos integrarem um projeto de coro de crianças na Ilha de
Marajó, no Pará, e acabou rescindindo contrato com o Theatro Municipal, julgando
ser uma ideia interessante e lucrativa.
Porém o projeto não passava de uma farsa, e ele e um amigo ficaram
sem emprego.
“Sem sombra de dúvidas, um dos melhores aprendizados musicais e pessoais da minha vida”, tenor Luperci de Souza sobre os Canarinhos de Petrópolis.
Após três meses buscando uma oportunidade, Luperci conheceu Jorge Lhez, diretor musical da Universidad Católica de Salta, na Argentina, onde continuaria sua graduação.
- Estava em um ponto onde, muitas vezes, já tinha pensado em
desistir de música. Este diretor me ofereceu uma vaga para continuar meus
estudos nessa universidade – contou.
As dificuldades continuaram por lá. Luperci morava na casa
de um padre, onde precisava ajudar nos afazeres do lar e realizar trabalhos
para a igreja, além de ter que cuidar do pai do religioso, que era cego. Em
meio a estas atividades, tentava aprender espanhol.
Motivado a buscar seus objetivos, o petropolitano começou
então a dar aulas particulares e, em seguida, se mudou para um pequeno
apartamento. Após um ano na Argentina, Luperci passou em uma audição para o
Coro Del Sodre, no Uruguai. Lá, participou da gigantesca produção Turandot, do
compositor italiano Giacomo Puccini.
Após dois meses cantando no coro, Luperci começou a ter que
lidar com os atrasos de salário e, depois do quinto vencimento, decidiu sair do
grupo.
Petropolitano ganha destaque pelo mundo
Um vídeo postado em uma rede social chamou a atenção de um
amigo dos tempos de Canarinhos, o barítono e ex-professor Michel de Souza. O
clipe mostrava Luperci de Souza cantando na Argentina. O amigo, que terminou
seu mestrado na Royal Conservatoire of Scotland (Conservatório Real da Escócia),
então, o convidou a estudar por lá. O convite foi aceito, mas o petropolitano
sabia que as condições, principalmente financeiras, não eram favoráveis para
tal investida. Michel então colocou Luperci em contato com um professor do
conservatório, que conseguiu uma bolsa integral para ele no Associated Board of
the Royal Schools of Music (Conselho Real de Escolas de Música), em Londres,
que cobriria a tarifa de seu mestrado e o custeava como um estudante no Reino
Unido.
- Luperci sempre foi um aluno aplicado e talentoso. Desde
pequeno mostrava um grande talento e paixão pela música. Fiquei muito feliz em
poder ajudar um pouco na sua vinda para Europa e de ver os resultados positivos
em sua carreira. Espero que ainda cantemos juntos, por aqui (Europa) ou no
Brasil – comentou Michel.
Para conseguir a bolsa, Luperci precisava passar em um teste
rígido de inglês, o que o fez aprender o idioma em apenas três meses e meio.
- Acho que nunca estudei tanto em minha vida. Acordava e
dormia pensando em estudar inglês. Consegui passar no teste e comprei minha
passagem para a Escócia – contou o tenor.
- Quando vi o conservatório pela primeira vez fiquei de “boca
aberta”. Uma estrutura incomparável com qualquer outra que já tinha visto em
uma escola de música – acrescentou.
O tenor logo começou a ter contato com o público britânico,
participando de oratórios e galas que, além de lhe dar mais experiência, o
ajudou na aclimatação com a língua inglesa. No primeiro ano, Luperci interpretou
o personagem principal na ópera Die Lustigen Weiber von Windsor (O Feliz
Divórcio de Windsor), do compositor e maestro alemão Otto Nicolai.
Nas férias daquele ano, foi convidado por um amigo a fazer
um concerto na cidade de Les Sables-d'Olonne, na Baía de Biscaia, na França. O
repertório apresentado foi constituído essencialmente por trabalhos
brasileiros, como os do Maestro Claudio Santoro.
Em seu segundo ano na Escócia, o petropolitano cantou em
três óperas, além dos concertos e audições em outros países. A primeira, Il
ritorno d'Ulisse in patria (O retorno de Ulisses à
pátria), do compositor italiano Claudio Monteverdi, onde interpretou o filho de
Ulisses, Telemaco. No segundo trabalho, para ele, o mais desafiador da
carreira, o papel principal na ópera La clemenza di Tito (A clemência de Tito),
de Mozart.
- Seria uma música super difícil e um papel, na maioria das
vezes, feito por um tenor mais velho, por necessitar mais presença vocal. Aceitei
o desafio e fiquei muito contente com o resultado – comentou o petropolitano.
A última ópera na escola foi La rondine (A andorinha), do
compositor italiano Giacomo Puccini, um dos compositores favoritos de Luperci. Um
presente, segundo o tenor.
“Fiquei muito feliz em poder ajudar um pouco na sua vinda para Europa”, barítono Michel de Souza
Luperci de Souza cumpriu até o mês de abril um contrato com
um cruzeiro marítimo, que percorre a Costa da Ásia. O tenor estrelou após este período a ópera cômica L'elisir d'amore (O Elixir do
Amor), do compositor italiano Gaetano Donizetti.
- Uma das minhas óperas favoritas. Bem engraçada e incrível
para um tenor. Estou bastante ansioso pra cantar esse papel – complementou
Luperci.
As apresentações aconteceram entre os dias 6 e 9 de maio, na
cidade de Edimburgo, capital da Escócia.